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O QUE FOI FEITO DO OURO?
O QUE FOI FEITO DO OURO? * Adilson Luiz Ah, os presépios no meu tempo de infância... Eu esperava com prazerosa e pueril ansiedade aqueles dezembros, para vê-los montados nas igrejas. Às vezes nós íamos a várias, para ver os diversos tipos, seus detalhes, seus movimentos, suas luzes, em suma, a criatividade e engenhosidade de seus artesãos. Mas não eram apenas as aparências que me fascinavam: eu me admirava da importância dada a uma criança, como eu e outras tantas, cuja presença era aguardada e celebrada, e que só ocorria no dia 25 de dezembro. Ela representava a esperança do mundo, e eu me sentia parte dessa esperança. Os cenários eram humildes, campesinos, mas nem por isso menos grandiosos. Havia neles uma irresistível aura de beleza. As únicas figuras que sugeriam riqueza material eram os Três Reis Magos que, na época, eu achava que eram magros, embora exibissem excelente saúde... Outro dia, passeando pelos shoppings de minha cidade, observei alguns presépios: as imagens de José, Maria e do menino Jesus estavam lá, só que, em vez dos mantos simples, vestiam túnicas ricamente confeccionadas, cheias de rendas e filigranas douradas, que em nada lembravam a história que conhecemos. A manjedoura destoava completamente naquele cenário! Talvez os judeus da época da Natividade esperassem o Messias dessa forma: um rico e poderoso líder, um rei invencível capaz de libertar Israel do jugo romano e de reconduzir-lhes ao esplendor dos tempos de Salomão. Sob essa perspectiva, o simples fato de nascer pobre já o desabonava para tão gloriosa expectativa. Afinal, já naqueles tempos, alguns consideravam a riqueza como uma benção maior do que a virtude. Mas Jesus não veio ao mundo, e nem viveu nele, ostentando esse tipo de "glória". Assim é que todas as religiões cristãs falam da humildade casal, da dificuldade em encontrar pousada e da simplicidade do parto, incógnito exceto para aqueles reis do Oriente. Estes, ricos e poderosos, acorreram singelamente para prestar suas homenagens àquela criança, num local improvável, que em nada representava a grandeza do momento. Ali, naquele cenário, foi dada a primeira mensagem do Natal: Não julgar pelas aparências! Os Reis Magos, como é costume até nossos dias, levaram presentes para a criança: ouro, incenso e mirra... O que houve com eles? Bem, o incenso é consumido pelo fogo; a mirra também se esvai... E o ouro? Independentemente de qualquer dessas hipóteses, consta que José continuou a sustentar sua família como carpinteiro. O ouro parece ter sido irrelevante; aliás, continuou a ser, pois Jesus só teve seu manto e suas sandálias; exortou a dar a César o que era de César; expulsou os mercadores do Templo de Jerusalém... Enfim, mostrou que sua "moeda" era outra, muito mais valiosa! Mas muitos seres humanos, embora louvem a Jesus com palavras, continuam a valorizar a riqueza material e a ostentação arrogante em detrimento da mensagem cristã. Parece que continuam a aguardar um Messias rico e poderoso, que os enalteça e justifique, e não o menino na manjedoura, símbolo de uma grandeza real, libertadora e universal que não distingue pelo poder aquisitivo ou pelas aparências. Jesus não veio ao mundo para celebrar os contornos e a hipocrisia. Veio, sim, para transformar-nos por dentro; para resgatar nossas almas da ignorância, e para curar-nos da cegueira que o brilho excessivo da riqueza material ocasiona. Os presépios precisam continuar a ser simples, criativos e engenhosos, como os de outrora, para conscientizar-nos de que o ouro é necessário para viver, mas é um meio e não um fim. Ele dá poder, mas não dá razão. Ele dá posses e vantagens, mas não torna quem o possui um ser humano melhor por si só. Então, que o Natal sirva para lembrar-nos de que sua real riqueza consiste no nascimento de Jesus, que enriqueceu a todos com a mesma esperança! * Adilson Luiz Gonçalves é escritor e professor universitário ...


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